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Para quem não entendeu Jung


Jung

"Sou eu próprio uma questão colocada ao mundo e devo fornecer minha resposta; caso contrário, estarei reduzido à resposta que o mundo me der" C. G. Jung

Por que Jung é pouco compreendido, inclusive pelos psicólogos e psicanalistas?

(A palavra psicanálise será, no presente texto, usada no sentido amplo de investigação da psique, e não no tratamento desenvolvido por Freud).

Desde que comecei a fazer terapia com uma analista junguiana comecei a me perguntar por que motivo poucas pessoas escolhiam um terapeuta junguiano e, principalmente, por que razão existem menos psicanalistas do que psicólogos comportamentais (ou ao menos estes últimos aparecem com muito mais freqüência na mídia).

Esta questão sempre retornava à minha mente até que comecei a estudar análise junguiana e, alguns anos depois, tornei-me também uma psicanalista dedicada a esta área, a qual considero um dos trabalhos mais completos, ou talvez o mais completo, sobre o ser humano e o sistema no qual este está inserido.

Em alguns anos de trabalho, no qual me encontrava, e ainda me encontro, nos dois lados – tanto como analista, quanto como paciente – tive oportunidade de conhecer pessoas que fazem ou fizeram análise, como também conheci profissionais de diferentes correntes da psicologia. Fiz cursos, assisti palestras, troquei informações e li diversos livros, artigos e textos.

E neste tempo dedicada ao aprendizado da psicologia analítica começou a ficar claro para mim porque Jung é tão pouco compreendido e, muitas vezes, severamente criticado, principalmente pelos próprios psicólogos.

Pude observar que compreender Jung está muito além de sua própria teoria. Não só porque esta exige um razoável conhecimento de outras áreas, tais como filosofia, história, física teórica, psicologia etc. Mas principalmente porque é exigido algo que pouquíssimas pessoas podem oferecer: a disponibilidade de buscar autoconhecimento.

E autoconhecimento não tem necessariamente a ver com conversas consigo mesmo, como já ouvi de algumas pessoas. Autoconhecimento tem a ver com algo muito mais profundo e mais difícil, que é compreender o próprio sentido da vida.

Atingir este patamar demanda uma vida inteira. Exige de nós uma disponibilidade para olharmos para a nossa existência, para o que somos e como agimos dentro do sistema no qual estamos inseridos. Exige que estejamos abertos para coisas totalmente novas e desconhecidas, as quais irão se apresentar para nós todos os dias. Exige também, e principalmente, que olhemos para os nossos medos e para o nosso lado desconhecido e que, ainda, tenhamos a consciência de que precisamos nos integrar com estes aspectos que tanto nos assustam e nos impelem a fugas.

E quem tem, verdadeiramente, condição de se dispor a tudo isso e ainda sair inteiro? Realmente são poucos.

E dentre os profissionais da área da psicologia, parece que são poucos os que “ousam” enfrentar um mundo tão vasto e com tantos caminhos desconhecidos.

Muitas vezes, parece ser mais fácil fazer um curso, no qual se aprende conceitos e teorias e, posteriormente, aplicá-los aos clientes do que ir realmente em busca de si-mesmo.

Digo parece ser mais fácil uma vez que o profissional, em muitos casos, fica com a impressão de que está ajudando o seu cliente, pois ofereceu a este uma explicação teórica ou lógica para os problemas que o afligem e que, portanto, cumpriu o seu papel.

Mas e para este psicólogo ou psicanalista, onde se encontra a resposta para os seus próprios problemas? Apenas na teoria aprendida e apreendida nos cursos e livros, as quais muitas vezes são despejadas em textos bem estruturados e discursos bem elaborados?

Arrisco-me aqui afirmar que não. A resposta está em compreender a si-mesmo para poder entender aquele que vai em busca de ajuda.

Jung defendia que todo psicanalista deveria ouvir seu paciente. Que estivesse atento para tudo o que ele tivesse a dizer (ainda que seu discurso parecesse não ter sentido). Não fizesse julgamentos ou considerações de valores; apenas buscasse a tradução para a angústia daquele que estivesse à sua frente. E, principalmente, entendesse que seu cliente também é uma parte dele, psicanalista.

Se o profissional não puder compreender as suas próprias angústias, também não poderá auxiliar a quem o procura.

Ainda, se este mesmo profissional, seja ele psicanalista, comportamentalista, filósofo etc., não for capaz de se disponibilizar a algo maior do que ele próprio e ir em busca de sua essência, não poderá também compreender qual o seu papel e, principalmente, o que Jung defendia em sua psicologia que, entre outras coisas, buscava a compreensão do sistema no qual todos existimos como coletivo.

E esta falta de compreensão sobre o que ele propunha foi mais um dos fatores que levaram diversos psicólogos e psicanalistas a afirmarem, em um equívoco grotesco, que Jung era um místico, religioso e obscurantista.

Para estes críticos faz-se mais cômodo aplicar teorias e conceitos, pois isso dá a falsa impressão de que não há mais nada além daquilo que está nos livros e nos cursos e que, portanto, não há mais nada com o que se comprometer, numa clara tentativa de se isentar da responsabilidade consigo mesmo.

Mas, para aqueles que ousam cruzar a fronteira do si-mesmo é possível compreender que há um mundo muito mais amplo e revelador do outro lado.

Não posso dizer que o alcancei, mas posso dizer que já o visualizei.

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