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Filhos do Inconsciente


Filhos... Filhos? Melhor não tê-los! Mas se não os temos Como sabê-los?

Poema Enjoadinho, Vinícius de Moraes

Por que motivos temos filhos? O que acontece em nosso íntimo para desejarmos gerar uma vida?

Por mais que tentemos, a resposta dificilmente poderá ser dada de forma racional. Poderemos encontrar dezenas, ou até centenas de respostas que seguem na linha da razão, mas ainda assim, nenhuma delas pode explicar a vontade que muitas pessoas simplesmente sentem de ter filhos.

Para alguns, ter filhos pode significar a capacidade de se mostrarem homens ou mulheres, uma vez que podem se reproduzir. Algo que herdamos dos instintos animais. Para outros pode ter a ver com a necessidade de dar e receber amor. Ou ainda, deixar o seu legado para o futuro.

Enfim, podemos encontrar diversos motivos para isto. Mas ainda assim o que explicaria a necessidade de termos filhos? E qual seria o motivo para deixarmos descendentes?

Biologicamente falando, sabemos de onde vêm os filhos e qual a função da reprodução. Mas a questão hora tratada se refere a outro aspecto: por que temos filhos e por que precisamos deles?

Abordando de um ponto de vista mais filosófico, podemos considerar que os filhos já existem em um nível inconsciente. Isto significa dizer que quando alguém decide trazer uma criança ao mundo, esta mesma criança já existe anteriormente como projeto. Ou seja, ela não passa a existir apenas no momento da fecundação; ela precede a este momento.

E por que precisamos dos filhos? Precisamos deles para que respondam às questões que nós não fomos capazes de fazê-lo. As crianças, antes de nascerem, já têm a atribuição de solucionarem as questões que os pais não puderam responder.

A humanidade evolui nas mais diversas áreas conforme decifra as questões que para ela são colocadas. Ou seja, há uma infinidade de coisas não compreendidas em nosso mundo, e por que não em nosso universo, que precisam ser conhecidas. E tal conhecimento só é possível através das gerações de pessoas que transmitem as informações.

E o mais importante de tudo isso é que através da resolução destas questões ganhamos consciência. A consciência de quem nós somos e para onde estamos caminhando.

Esta consciência sobre nós mesmos tem início dentro de cada núcleo familiar. Muito do que sabemos a nosso respeito tem origem em nossa família, e muitas pessoas só começam a conhecer a si próprias a partir do momento em que geram uma vida.

Podemos considerar ser essa a principal finalidade dos filhos: decifrar os enigmas que os pais não foram capazes. E, neste caso, me refiro aos enigmas que o nosso inconsciente nos coloca. Aqueles que por não serem compreendidos e, muitas vezes sequer olhados, ainda estão no plano do desconhecido.

Uma nova vida traz consigo muitas das respostas que os pais não foram capazes de encontrar. E talvez essa seja a sua principal finalidade: trazer o “novo”, neste compreendendo uma nova resposta, um novo valor, uma nova forma de se pensar e se entender o mundo.

Já chegamos a este mundo com a capacidade de solucionar questões, mesmo que não saibamos disso. E para aquelas que não sejamos capazes de encontrar respostas, estas dar-se-ão através dos nossos descendentes.

Cada ser humano tem uma missão extremamente importante e fundamental, qual seja, trazer conhecimento ao mundo. Não importa que tipo de conhecimento nem o modo como ele chega até nós. Mas de alguma forma tal conhecimento precisa vir à luz, pois tudo o que está no plano do inconsciente, do desconhecido, “pede” para se tornar conhecido.

O que não formos capazes de esclarecer necessitará ser feito por outrem; ainda que para uma questão ser esclarecida precisemos gerar outra vida.

Não estamos nos referindo a qualquer questão, de forma aleatória; e sim àquelas que já trazemos implícitas em nós, as quais, muitas vezes, herdamos dos nossos ascendentes.

Assim, ao olharmos para nós mesmos, nos damos conta de que muito do que somos e do que buscamos para as nossas vidas está além do nosso controle e do que imaginamos que seria o mais adequado, em termos racionais.

E, então, somos remetidos a uma outra incógnita, que diz respeito ao nosso livre-arbítrio. Somos tão livres assim para escolhermos nossos caminhos, exatamente do modo como queremos? Ou trazemos algo que, de algum modo, nem tivemos oportunidade de decidir se queríamos ou não?

De fato, em alguma fase da nossa vida, nos damos conta de que não temos controle total sobre nossas vidas, e nem sobre nossos filhos e que, muito do que nos incomoda neles, é resultado do que não compreendemos em nós próprios.

É como se transmitíssemos ao próximo as ferramentas necessárias para construir algo muito importante, mas sem consciência desta herança.

Por isso, sempre que os pais se incomodam com os caminhos que os filhos seguem e o modo como o fazem, devem pensar que tipo de caminho estes mesmos pais mostraram aos seus filhos e quais ferramentas deixaram para eles.

Ainda, muitos pais imaginam qual o melhor caminho para os filhos seguirem e de que forma devem fazê-lo. Mas, em termos ideais, talvez, a melhor coisa que os pais devessem fazer para seus filhos seria confiar que eles podem, e devem, fazer diferente dos seus genitores.

Pois a forma mais eficiente da humanidade continuar evoluindo e aprendendo é ser capaz de buscar outro caminho, ser capaz de mudar. Ainda que, para tanto, os filhos sigam rumos diferentes dos seus pais.

Se não houver mudanças não há evolução; o que significaria dizer que não há mais o que buscar. E isso, muitos de nós, em nosso íntimo, não deseja.

Não só nós evoluímos, mas todo o sistema em que estamos inseridos caminha para buscar conhecimento sobre si próprio. A natureza, e os seres humanos como parte dela, constata esta mudança rumo à evolução todos os dias, o tempo todo.

Deste modo, podemos afirmar que, de algum modo, o nosso grande mérito seja continuar decifrando as incógnitas e trazendo as respostas para a consciência, para nos tornarmos cientes de quem somos.

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